Após minha estadia em
Salvador embarquei para Irará, cidade localizada no interior da Bahia. Descobri que receptividade é uma dádiva de Deus, dada em porção dobrada para povo baiano (rsrssr). Conheci mais uma
parte de minha família, que antes tinha contato apenas no mundo virtual, embora
eles sempre existissem. Confesso que o pior momento foi o da despedida, pois
minhas pernas caminhavam rumo ao avião de forma lenta, vagarosa, parecia não saber
se deveria obedecer ao coração ou o cérebro. Uma vez obedecendo ao coração elas
não caminharia rumo ao avião, pois esta não era minha vontade naquele momento.
Esse é o meu sentimento quanto as pessoas. No que diz respeito a cidade, optei por
postar o texto abaixo, escrito por meu irmão Eduardo Ribeiro e postado em seu
blog: A vida sob leitura (http://pietrasopralinea.blogspot.com/)
Rousseau acreditava no
homem puro em seu estado de natureza, dizendo que a sociabilidade o corrompe.
Muitas das idéias deste filósofo foram confirmadas no sistema da vida
contemporânea. No dia 15 (Eu 18), deste mês, cheguei
a Irará (nome que deriva de Arará, uma espécie de formiga vermelha), na Bahia.
Apesar de ser uma cidade pequena do estado baiano, Irará tem nobres filhos,
como o cantor Tom Zé, o pesquisador Emídio Brasileiro, Diógenes de Almeida
Campos, um dos mais importantes paleontólogos do Brasil, o goleiro Dida e, para
mim o mais ilustre de seus filhos, Antonio Ribeiro, meu pai.
Desbravada
pelos padres jesuítas e por bandeirantes que buscavam ouro, a cidade teve como
primeiros habitantes as populações dos índios paiaiás, aliás, de onde meu avô
descende. Próxima a Feira de Santana, e a 137 km de Salvador, a cidade
conta com uma população aproximada de trinta mil habitantes, que sobrevivem
basicamente da produção agrícola e do comércio local.
Em
Irará, ao regressar à cidade após praticamente duas décadas, além de uma
família maravilhosa, encontrei uma população hospitaleira, com uma rica
tradição e traços marcantes de uma rica cultura, carregada pela simplicidade
das pessoas e do lugar. Com o olhar de um outro, uma rápida passagem pode
transformar a cidade em mais um pequeno vilarejo, iguais a tantos outros,
contudo, como parte da cidade, sentimos a sua singularidade, aguçamos os nossos
sentidos, para nos envolver com suas imagens, sons, odores e sabores.
Parece
ser muito fácil viver em Irará, quando nos desprendemos da necessidade de
transitar solitários nas multidões dos grandes centros, quando percebemos que
não há uma cultura superior nas grandes cidades, quando deixamos de lado a
ideia de que oportunidades de trabalho ou de estudo influenciam a nossa
oportunidade de sermos seres humanos. Aliás, senti-me mais humano em Irará, em
contato com o outro, com as estórias, com a natureza. Descendo para a Caroba ou
para a Jurema, na roça, essas sensações se multiplicaram e intensificaram, já
que ali a cultura planejada na massificação se enfraquece e se esvai.
Sem
dúvida, voltarei a Irará, novamente de passagem ou para lá viver. Ao atingir
meus objetivos, agora mais imediatos e reais, encherei outras malas, dividirei
o que construí em mim, para multiplicar minhas experiências com as pessoas, e
delas apreender muitas, iguais aos poucos dias em que pisei nas terras daquela cidade,
tão bonita quanto Roma, Évora e Buenos Aires, porém, com uma dose a mais de
oxigênio e de vida.